Este mês há duas datas comemorativas muito ligadas à agenda do desenvolvimento: o Dia das Crianças, 12, e o Dia do Professor, 15 de outubro. O ensino delimita a capacidade do País de capacitar novas gerações preparadas para as transformações do trabalho, da tecnologia e da produção e de promover os ganhos de produtividade e competitividade necessários para ampliar seu protagonismo na economia global. Entretanto, estamos em dívida com os mestres, os estudantes e a sociedade, pois segue baixa a qualidade da educação, há muito tempo negligenciada.
O Brasil classificou-se em 52º lugar, dentre 57 países, na Pesquisa PIRS (Estudo Internacional de Leitura), da Associação Internacional para Avaliação de Conquistas Educacionais (IEA), divulgada em maio último. No PISA 2018 (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), tivemos um dos 10 piores desempenhos em matemática. Em leitura, ficamos atrás de 55 nações e, em ciências, abaixo de 65. A expectativa é de que tenhamos avançado nos resultados da prova de 2022, que serão apresentados em dezembro próximo.
Essa performance negativa evidencia a correção do diagnóstico feito no estudo Diretrizes Prioritárias – Governo Federal 2023-2026, realizado pela FIESP e CIESP, no qual salientamos ser prioritário melhorar a qualidade do ensino, para que cumpra com eficácia seu papel de alavancar o desenvolvimento econômico. Nesse sentido, propomos fortalecer a governança da Educação Básica, modernizar a gestão dos órgãos da administração pública educacional e valorizar a profissão docente.
Também é preciso viabilizar uma Educação Infantil de qualidade, articulada a um atendimento integral na primeira Infância, adotar políticas voltadas à alfabetização na idade certa, reformular o Ensino Médio e intensificar o uso de tecnologias digitais. Ademais, é importante implementar estratégias de valorização da formação profissionalizante em todos os níveis, aproximando a educação regular da capacitação para o trabalho.
Há políticas de sucesso em várias nações, que possibilitam tanto a inserção do jovem no primeiro emprego, quanto sua continuidade na universidade e a requalificação dos recursos humanos como um todo. Em nosso país, temos o bom exemplo do Senai, na formação técnica de nível médio e cursos superiores de tecnologia, bem como do Sesi, na Educação Básica. São redes escolares de excelência mantidas pela indústria, numa demonstração clara do que o Brasil é capaz de fazer.
Para que tenhamos êxito na melhoria do ensino público, dando às crianças de hoje o presente de um futuro melhor e ampliando as possibilidades de desenvolvimento nacional, é determinante a valorização dos professores. Isso implica, além da questão salarial, a melhoria das condições de trabalho, infraestrutura e tecnologia nas escolas. Também é preciso suporte para sua formação acadêmica e educação continuada.
Os mestres precisam estar cada vez mais preparados para enfrentar os desafios contemporâneos da educação. É crucial lapidar novas mentalidades, aderentes às exigências cada vez maiores de princípios éticos, respeito à diversidade e ao meio ambiente, aporte tecnológico e digitalização da economia. Tais preceitos precisam ser trabalhados desde os primeiros anos.
Considerando todos os níveis de escolaridade, o País tem cerca de 2,6 milhões de professores e 74,5 milhões de alunos matriculados, revelam os censos da educação. Nosso grau de prosperidade socioeconômica dependerá muito das condições de ensinar e aprender que proporcionarmos, desde já, a esse contingente de brasileiros. O horizonte do amanhã só pode ser vislumbrado pelas janelas das salas de aula.
*Rafael Cervone, engenheiro e empresário, é o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).