As doenças cardiovasculares, que tradicionalmente preocupam aos homens, já são hoje responsáveis por 35% dos óbitos femininos no mundo. No Brasil, elas respondem por 28% das mortes entre mulheres. Em 2019, o DataSUS revelou que as doenças do aparelho circulatório foram a principal causa de mortalidade feminina no Brasil, superior inclusive à soma de todos os tipos de câncer, o que representa mais de 170 mil óbitos por ano no país. Por isso, a importância de alertar sobre o tema no Dia Mundial do Coração, celebrado em 29 de setembro.
“O cenário preocupa, pois o número de casos vem aumentando, principalmente entre mulheres jovens e de meia-idade. Um quadro que é possível reverter porque já sabemos que 80% dessas doenças podem ser evitáveis com estilo de vida saudável e acompanhamento médico adequado”, explica a cardiologista do Sabin Diagnóstico e Saúde, Carla Janice Baister Lantieri.
“Sempre se acreditou que os riscos de doenças cardiovasculares eram os mesmos para homens e mulheres, hoje já sabemos que existem riscos específicos relacionados ao gênero feminino e por isso precisamos chamar atenção para o tema”, destaca a médica. Em 2022, o Departamento de Cardiologia da Mulher da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) publicou pela primeira vez o Posicionamento sobre Saúde Cardiovascular nas Mulheres, intitulado “Carta às Mulheres”.
Além dos fatores clássicos, como sedentarismo, obesidade, estresse, tabagismo, dislipidemia, hipertensão arterial, diabetes e qualidade ruim do sono, que atingem homens e mulheres, existem os fatores de riscos inerentes ao gênero feminino e pouco associados às doenças cardiovasculares. “Em cada momento da vida da mulher há riscos específicos a saúde cardiovascular. A gravidez é um momento de alteração importante dos níveis hormonais com propensão ao aparecimento da hipertensão arterial gestacional, que pode evoluir para a hipertensão sistêmica pós gestação. No pós-parto, há alterações glicêmicas e dificuldade para redução do peso. Na menopausa, temos a perda do fator protetor do estrogênio, quando o sistema fica mais vulnerável a sofrer um infarto do miocárdio”, explica Lantieri. Segundo ela, os fatores de risco relacionados ao sexo ainda incluem síndrome dos ovários policísticos, uso de contraceptivo hormonal e terapia de reposição hormonal na menopausa.
Para além dos fatores de risco clássicos e os específicos, o Posicionamento sobre Saúde Cardiovascular nas Mulheres, traz ainda os chamados fatores sub reconhecidos, como depressão e ansiedade, falta de acesso aos sistemas de saúde, estresse crônico, tratamento oncológico, além de abuso e violência, discriminação racial e orientação sexual, como fatores relacionados ao aumento do risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares em mulheres.
“Há uma distorção da ideia de que mulheres se cuidam mais e vão ao médico mais vezes. Isso acontece quando falamos em saúde reprodutiva, mas não quando falamos das doenças do coração. É preciso olhar para a saúde da mulher de forma integral e individualizada para que se crie uma rotina de cuidados preventivos que incluam também os riscos que impactam em sua saúde cardiovascular ao longo da vida”, completa Carla.
Um outro aspecto importante da questão é que a sintomatologia das doenças cardiovasculares em mulheres pode ser diferente e com isso, muitos sinais não são levados em consideração ou muitas vezes são negligenciados pela paciente e pelo médico. “Desconforto epigástrico, que ocorre na chamada ‘boca do estômago, logo abaixo do tórax, fadiga e palpitações podem ser sintomas iniciais, mas acabam sendo relacionados a ansiedade, por exemplo, e atrasam o início do tratamento correto”, destaca a médica.
O diagnóstico precoce e o tratamento adequado dessas doenças são essenciais para a redução da mortalidade e da morbidade. Por isso, é importante que as mulheres sejam conscientizadas sobre os riscos e que busquem orientação médica regularmente.