Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acelerou a fila de análise dos registros de medicamentos à base de liraglutida e semaglutida, princípios ativos das canetas emagrecedoras, em atendimento ao pedido do Ministério da Saúde. Essa medida foi tomada em um momento de alta procura por essas canetas no país, ampliando a discussão sobre a sua finalidade.
As polêmicas envolvendo esse tipo de medicação, originalmente usada no tratamento de obesidade e diabetes, incluem desinformação e muitas dúvidas de quem busca, nas canetas, uma forma de perder peso. A questão perpassa temas que vão além da saúde, concentrando-se também em demandas estéticas, culturais e sociais, como o culto à magreza e a gordofobia.
A fim de esclarecer dúvidas e elucidar essas questões, a médica gastroenterologista Yael Albuquerque, especialista do Brasil Private Check-up (BPC), que integra a AFIP, comenta a regulação nacional desses medicamentos, a finalidade, ação no organismo e os riscos causados pelo uso sem prescrição médica.
Segundo a médica, essas medicações não são inofensivas. “Quando usadas sem acompanhamento, podem causar enjoos, vômitos, diarreia ou prisão de ventre. Em alguns casos, há risco de inflamação no pâncreas, pedras na vesícula, alteração na função dos rins e até quedas no açúcar do sangue”, comenta. Ela alerta ainda sobre a proibição de uso para casos de pessoas com histórico de certos tipos de câncer.
Yael afirma que o uso desses medicamentos deve ser prescrito após entendimento de como ele funciona no organismo: “As canetas imitam um hormônio natural do corpo chamado GLP-1. Isso faz a pessoa sentir mais saciedade, comer menos e digerir os alimentos mais devagar. Como consequência, há uma redução na ingestão de calorias. Para quem tem diabetes, ainda ajudam a controlar a glicose no sangue”, explica.
A respeito da produção nacional das canetas, a especialista afirma que cada país tem suas próprias regras para regulação, e que, no Brasil, a Anvisa é quem garante a segurança dos medicamentos. Os problemas começam, segundo ela, quando as pessoas compram esses produtos pela internet, no exterior, sem garantia da procedência, ou integridade. “Não é um recurso para quem só quer ‘perder uns quilinhos’, é uma medicação que precisa de indicação médica e acompanhamento”, alerta.
Segundo a médica, o acompanhamento de um gastroenterologista é muito importante, já que os principais efeitos colaterais dessas medicações acontecem no sistema digestivo. O especialista vai acompanhar sintomas, ajustar a medicação se necessário, cuidar da saúde intestinal e orientar para que a perda de peso seja feita de forma segura, equilibrada e duradoura.
A banalização do uso dessas medicações, vista de maneira crescente na internet, é preocupante para a médica: “As canetas podem ajudar, sim, na perda de peso, mas precisam estar dentro de um plano de tratamento, com acompanhamento médico e mudanças de hábitos. Quando usadas sem orientação, elas aumentam os riscos à saúde e diminuem as chances de sucesso à longo prazo”.
Sobre a AFIP
A AFIP é um ecossistema que integra ciência, tecnologia e prestação de serviços de saúde. Referência em medicina diagnóstica, tem uma atuação abrangente, com unidades de negócio em pesquisa, ensino e prestação de serviços. Atende parceiros públicos e privados nas diversas regiões do país e destaca-se pela realização de pesquisas científicas de reconhecimento internacional. São quase 50 anos de história inspirados pela ciência e dedicados à saúde.