Ensinar crianças sobre finanças é uma habilidade para prepará-las para um futuro responsável e financeiramente saudável. Não é à toa que a implantação da educação financeira nas escolas, como conteúdo complementar associado à disciplina de matemática, segue o que determina a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Atualmente em Rio Preto, várias escolas da rede já trabalham educação financeira com alunos, como é o caso das unidades escolares Cyrino Vaz de Lima e Flávio Fasanelli Rodrigues.
Segundo a coordenadora pedagógica da Cyrino, Fabiana Nogueira, a ideia surgiu quando as professoras dos 4º anos A e B fizeram uma proposta aos alunos de fazer um cofrinho das salas para que eles pudessem realizar uma ação entre os alunos no final do ano.
A partir desta iniciativa começaram a trabalhar com os estudantes o sistema monetário, momento em que perceberam as dificuldades que as crianças apresentavam com relação ao dinheiro, como por exemplo, entender a compra, troco a receber, valor associado, necessidade real de comprar determinado item. Desta forma, para se aprofundar mais nasceu o projeto “Mercadinho”, amplamente adotado por outras unidades escolares da rede.
Ao montar o “Mercadinho” nas salas de aulas as professoras puderam desenvolver atividades significativas com as crianças, que aprenderam na prática a relação de compra, com foco nas questões custo-benefício dos produtos, necessidade de realizar a compra ou não, durabilidade e descarte do produto, valor nutricional, data de validade e consumo consciente.
“Ao final, pode-se perceber quão rica foram as atividades, que trouxeram muita reflexão às crianças sobre o consumo sustentável, a relação que fazem com o dinheiro, assim como conhecimentos acerca do sistema monetário”, diz a coordenadora Fabiana Nogueira.
As professoras dos 4º anos da escola Cyrino Vaz de Lima, Fabiana da Silva Volpi Barbosa e Ivanilde Alves Pereira Young, no decorrer do processo desenvolveram habilidades matemáticas importantes, como orçamento, compreensão do real valor do dinheiro e a contribuição para a economia.
“Conversamos com os alunos sobre a origem do dinheiro, o valor dos produtos e, principalmente, as diferenças entre ‘querer’ e ‘precisar’, que necessitam ser avaliadas antes do consumo. Os estudantes fizeram compras no mercadinho com cédulas de brincadeira e tiveram a oportunidade de perceber o conceito da soma e subtração e até mesmo o do troco, quando fizeram o pagamento no caixa”, explica a professora Fabiana Barbosa.
A professora Ivanilde Young diz ainda que os alunos passaram a refletir sobre as consequências financeiras e sustentáveis do ato da compra. “É preciso relevar também a qualidade de vida em nosso planeta e na vida das futuras gerações. O projeto se deu de forma lúdica possibilitando aos alunos desenvolverem habilidades do mundo real que podem ter reflexos em seu futuro”, diz ela.
“Gosto muito dessa aula do mercadinho, passei a conhecer os preços dos alimentos, quanto custa um saco de arroz. A gente aprende coisas que usamos todos os dias como adição, subtração, multiplicação, é bom, muito legal”, diz o aluno Enzo Marin Pereira, de 10 anos.
Na escola Flávio Fasanelli Rodrigues, a avaliação diagnóstica mostrou a necessidade de trabalhar o sistema monetário, pois foi observado que os alunos não tinham contato com o dinheiro, não vivenciavam atos como pesquisar, selecionar, comprar ou verificar o valor dos produtos, tampouco tinham consciência de valores.
Dessa forma, o projeto desenvolvido pelos terceiros anos do Ensino Fundamental surgiu pela necessidade de trazer situações reais. De acordo com o coordenador pedagógico Osvaldo Luís, “a necessidade observada pelas professoras canalizou-se numa atividade prática dividida em várias etapas que compunham a sequência didática que contou com a participação dos alunos”.
A primeira delas foi a reutilização de embalagens vazias de produtos consumidos nas residências dos alunos, que, sob orientação das professoras, foram levadas para escola para que organizassem um mercadinho. A segunda fase foi refletir sobre os produtos, o nome, se era vendido por litro, gramas ou quilogramas, em qual seção ou prateleira deveria estar alocado.
Em um outro momento foi dado a cada aluno um valor para que comprassem o que desejavam, o que permitia outra problematização: o valor que tinha era o suficiente para realização desse desejo? Haveria troco? Se sim, de quanto seria?
“Dessa maneira, visando oferecer um conhecimento tão necessário, a atividade lúdica possibilitou que todos se envolvessem e vivenciassem situações corriqueiras da vida adulta, mas que envolvem organização e reflexão”, diz o coordenador Osvaldo Luís.