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MPS Week: importância do diagnóstico rápido e as novas perspectivas de tratamento 

Dia 15 de maio é o Dia Internacional de Conscientização das Mucopolissacaridoses, uma data criada para fomentar discussões e ampliar o conhecimento das pessoas sobre este conjunto de doenças raras. Na esteira deste dia, surgiu a MPS Week, uma semana inteira dedicada a levar informações sobre as MPS e chamar a atenção da população para este assunto tão importante. 

As MPS são doenças genéticas raras, provocadas por um erro inato do metabolismo que causa a produção insuficiente de uma enzima, responsável pela degradação de certas substâncias. Ao não serem degradadas, estas substâncias acabam se acumulando nas células do organismo, podendo causar aumento dos órgãos, problemas respiratórios e circulatórios, alterações ósseas e articulares, deficiência auditiva, além de efeitos neurológicos e dificuldade no desenvolvimento, condições que influenciam diretamente as emoções e a integração social dos pacientes. 

Os sintomas das MPS começam já nos primeiros meses de vida, mas são difíceis de perceber sem os exames adequados. A criança com MPS pode ter dificuldades de atenção, fala, coordenação motora, visão, audição, mas muitas vezes estes problemas são confundidos com outras patologias. Assim, o paciente com MPS pode demorar muitos anos para ter o diagnóstico correto, sendo submetido a uma peregrinação de médico em médico e a uma série de tratamentos inadequados e desnecessários até ter a confirmação da doença, através de testes bioquímicos e genéticos. 

Diagnóstico precoce e teste do pezinho 

Para minimizar os efeitos das MPS nos pacientes, é fundamental que o diagnóstico correto seja realizado logo nos primeiros meses de vida. Como as MPS são doenças que provocam um acúmulo de substâncias danoso ao organismo, quanto antes for feito o diagnóstico e o encaminhamento ao tratamento mais adequado, menores serão os problemas causados pela doença ao paciente. 

Neste sentido, seria de extrema importância a realização do teste do pezinho ampliado que detectasse também as MPS. Este teste já é obrigatório por lei desde 2021, mas o país ainda enfrenta dificuldades para efetivar a implementação deste teste fundamental para o diagnóstico precoce de diversas doenças que podem afetar gravemente a qualidade de vida do indivíduo. 

Novas perspectivas de tratamento para MPS tipo II 

Até pouco tempo atrás, o tratamento disponível para a MPS tipo II, também conhecida como Síndrome de Hunter, conseguia apenar repor a enzima faltante no corpo, mas sem tratar os efeitos neurológicos da doença. Isso porque existe uma barreira no sistema nervoso que impede substâncias ou microrganismos de entrarem no cérebro através do sangue, chamada de barreira hematoencefálica ou barreira sangue-cérebro. 

No entanto, uma nova medicação em processo de análise para aprovação no Brasil pela ANVISA tem a capacidade de atravessar esta barreira para levar a enzima deficiente também ao sistema nervoso central, tratando não só os efeitos físicos mas também os efeitos neurológicos da MPS II. 

Disponível para uso no Japão desde 2021, o pabinafuspe alfa demonstrou em estudos recentes que pode ser eficaz para o tratamento da mucopolissacaridose tipo II tanto em suas formas atenuadas quanto nas mais graves. 

Neurologicamente, o estudo sugere que o tratamento com pabinafuspe alfa pode ser benéfico para manter o desenvolvimento neurocognitivo em pacientes com MPS II em sua forma grave, e também pode promover a estabilização do desenvolvimento neurocognitivo em pacientes com a forma atenuada da doença. Na prática, isso significa muito mais qualidade de vida para o paciente e sua rede de apoio.  

Neste sentido, ainda de acordo com os resultados divulgados, os pacientes e seus cuidadores relataram evolução positiva considerável nas atividades após administração da nova substância, com relatos de melhora na caminhada, na habilidade de agarrar objetos, na interação social e na qualidade do sono. Os pais dos pacientes indicaram que houve uma melhora nas emoções de seus filhos após o tratamento, relatando sorrisos, contato visual e abraços. 

Dificuldades de regulamentação 

No entanto, a aprovação do novo medicamento para o uso no Brasil enfrenta uma série de dificuldades, a maioria delas relacionadas à própria gravidade da doença. Como trata-se de uma doença ultrarrara, o número de pacientes é muito reduzido, o que dificulta a realização de pesquisas com um grande número de indivíduos, algo usualmente requerido para a aprovação de um novo medicamento. 

A ANVISA já aceita, desde 2017, após a promulgação da RDC 205, o registro acelerado de medicamentos destinados a doenças raras, além da aprovação dos protocolos de pesquisa também de maneira acelerada quando indicados para doenças raras ou ultrarraras. No entanto, para o Dr. Roberto Giugliani, Professor Titular do Departamento de Genética da UFRGS, que lidera a pesquisa clínica do pabinafuspe alfa no Brasil, ainda é necessária uma legislação específica para a aprovação de estudos clínicos inovadores, com desfechos de curto prazo para estudos em fase II, a serem comprovados posteriormente em estudos de longo prazo de fase III. 

“Nós vivemos um impasse, porque os pacientes com doenças raras muitas vezes não conseguem esperar todo o tempo que leva o desenvolvimento e a aprovação de um novo medicamento, que pode ser de até 10 anos. Muitas vezes este paciente pode vir a morrer antes que uma nova substância com o poder de mudar o curso de sua doença seja aprovada pelos órgãos regulatórios. No caso do pabinafuspe alfa, o medicamento já está aprovado para uso desde 2021 no Japão, e os estudos realizados também no Brasil foram muito positivos, tendo sido já publicados em revistas internacionais reconhecidas. Apesar disso, os pacientes brasileiros não podem ter acesso à nova medicação devido à falta da aprovação regulatória no Brasil”, afirma Giugliani. 

Acesso por meio das pesquisas clínicas 

Enquanto o novo medicamento não é aprovado para uso no Brasil, o único meio de acesso dos pacientes é pela pesquisa clínica que vem sendo realizada no país. Mesmo assim, as leis brasileiras ainda exigem o uso de placebo para confirmar a eficácia do medicamento, o que faz com que parte destes pacientes não tenha acesso à nova tecnologia, mesmo participando da pesquisa. Para o Dr. Giugliani, este é outro ponto que merece atenção. 

“Já existem outros métodos de confirmar a eficácia de um tratamento sem o uso de placebo, e esta exigência acaba sendo uma crueldade com aqueles pacientes que são sorteados para receber uma substância que não vai surtir efeito nenhum propositalmente, para fins estatísticos. Para uma doença rara, poderia ser utilizado o histórico da doença, ao lado de biomarcadores reconhecidos, para comparação e confirmação dos efeitos positivos, disponibilizando o tratamento para um número maior de pacientes”, completa o professor. 

A medicina segue evoluindo e trazendo inovações que podem transformar a vida das pessoas, mas para que estas inovações cheguem de fato a quem mais precisa, é necessário um movimento conjunto entre todos os interessados para conscientizar a sociedade sobre a importância do diagnóstico precoce e da necessidade da evolução da legislação atual, porque o paciente com doença rara não pode esperar. 

Marcia Bernardes
Marcia Bernardeshttps://ftnews.com.br
Jornalista, 20 anos de experiência, tendo passado por diversas redações de mídia impressa em Catanduva e São José do Rio Preto. Atuou nos principais veículos do Noroeste Paulista, incluindo o jornal Diário da Região. Jornalista de formação, designer por amor.
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