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Grupo Galpão abre o Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto

Reconhecendo as artes cênicas como o lugar que promove a escuta para as inúmeras vozes da sociedade contemporânea, o Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (FIT Rio Preto) inicia sua edição 2023 nesta quinta-feira, às 20h, no Anfiteatro Nelson Castro, na Represa Municipal, com a apresentação do musical “De tempo somos”, do aclamado Grupo Galpão, de Belo Horizonte (MG). Ao longo de dez dias, o festival ocupa vários lugares da cidade com mais de 60 apresentações e atividades formativas. São 30 espetáculos na programação – produções nacionais oriundas de oito estados brasileiros e de mais três países (Argentina, Portugal e Reino Unido) – e 13 ações formativas.

“De tempo somos” traz o Galpão de volta ao FIT Rio Preto para cantar e contar sua história de quatro décadas a partir de composições que fizeram parte de seus espetáculos, entre eles “Corra enquanto é tempo” (1988), “Álbum de Família” (1990), “Romeu e Julieta” (1992), “Um Moliére Imaginário” (1997), “Partido” (1999), “Tio Vânia” e “Eclipse” (ambos de 2011).

Segundo Lydia Del Picchia, que dirige “De tempo somos” ao lado de Simone Ordones, o espetáculo musical propõe um encontro mais direto do artista com o público. “A cantoria é a celebração do encontro, da festa, da disposição para seguir em frente (apesar de tudo que nos faz pender para o chão!), do espírito libertário e contestador inerente a toda reunião festiva”, comenta.

Curadoria do escutar

Uma realização da Prefeitura de São José do Rio Preto, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, e do Sesc São Paulo, o FIT Rio Preto completa 54 anos de história e 21 anos de edição internacional. Com curadoria assinada pela dramaturga, diretora, educadora e pesquisadora Fernanda Júlia Onisajé, de Salvador (BA), pelo dramaturgo, diretor e professor Fernando Yamamoto, de Natal (RN) e pelo consultor de programação na Gerência de Ação Cultural do Sesc SP, Tommy Della Pietra, o festival deste ano promove o exercício da escuta tendo como inspiração um ditado do candomblé que diz: “ẹni tí ó gbọ́ lè bọ́ lọ́wọ́ òjò” (aquele que escuta consegue fugir da chuva).

“Assim como outros festivais de teatro, o FIT Rio Preto é exemplo da força da escuta na cultura e na arte. É vitrine para o cenário teatral, reunindo produções variadas de diferentes países e regiões, que permite a troca de experiências entre artistas e público”, comenta o secretário municipal de Cultura de Rio Preto, Pedro Ganga, um dos coordenadores do evento.

Gerente do Sesc Rio Preto e coordenador do festival, Thiago Freire destaca o potencial vanguardista do FIT Rio Preto como um evento que agrega uma diversidade de origens e identidades criativas. “É muito rico o modo como a cidade, em seus equipamentos públicos, praças, ruas e nas instalações do Sesc, mobiliza-se para receber artistas e promover o acesso das pessoas a uma programação sempre inovadora e dinâmica”, diz.

O que por vem aí

No FIT Rio Preto 2023, produções nacionais que são destaque na cena teatral pós-pandêmica dão vida a uma programação que promete provocar reflexões do público a partir de lugares de escuta estabelecidos por cada atração ou atividade formativa.

Questões como identidade, representatividade e desigualdade racial, por exemplo, são tratadas por espetáculos como “Cárcere ou porque as mulheres viram búfalos” (Companhia de Teatro Heliópolis – São Paulo/SP), “O pequeno herói preto” (Junior Dantas – Rio de Janeiro/RJ), “Negra Palavra – Solano Trindade” (Complexo Negra Palavra, Coletivo Preto e Companhia de Teatro Íntimo, do Rio de Janeiro/RJ), “E o palhaço, o que é?” (Cia. Palhaçaria – São José do Rio Preto/SP) e “Desfazenda – Me enterrem fora desse lugar” (São Paulo/SP).

Além da questão racial, outras pautas urgentes são abordadas por espetáculos que serão apresentados no FIT Rio Preto 2023, da problemática ambiental tratada por “Paraíso” (Teatro Máquina – Fortaleza-CE) à ameaça das fake news discutida de forma bem-humorada por “Detetives do Espavô” (Grupo Esparrama e Trupe Dunavô – São Paulo/SP).

Uma das atrações internacionais do FIT Rio Preto 2023, o artista inglês Nathan Ellis faz do público protagonista do espetáculo “Work.TXT” para criar uma discussão sobre o trabalho na sociedade contemporânea, tendo como norte o livro “Bullshit Jobs: a theory” (Trabalhos de merda: uma teoria), do antropólogo David Graeber.

De Lisboa (Portugal), o ex-Cirque du Soleil Rui Paixão, do grupo Holy Clowns, reflete sobre a condição do palhaço na atualidade em “Albano”, produção inspirada na trajetória de Albano Beirão (1884-1976), personalidade portuguesa que ficou conhecida como Homem-Macaco devido à sua força e agilidade em subir prédios.

Integrando a programação de rua do FIT Rio Preto 2023, o espetáculo argentino “Efectos Especiales – FX”, do grupo Krapp, de Buenos Aires, coloca o público nos bastidores de um filme de ação. As ruas da cidade tornam-se cenário de um filme impossível, em que artistas confrontam a arquitetura do lugar utilizando efeitos especiais como chuva, neve e fumaça colorida para trazer ao público a veracidade e fantasia da ação.

Ações formativas

No FIT Rio Preto 2023, a programação de ações formativas permite ao público, participantes e à classe artística local ampliar a discussão proposta pelos espetáculos em um contato mais direto com os artistas da programação. Ao todo, serão realizadas 13 atividades, entre encontros, rodas de conversas, workshops, vivências e lançamentos editoriais, ocupando espaços do Sesc Rio Preto e da Casa de Cultura Dinorath do Valle.

Com curadoria da artista e pesquisadora Renata Felinto, a programação formativa amplia o sentido da palavra escutar como verbo, prática e ação. “Após os últimos anos, nos quais movimentos da sociedade civil, minorias políticas e a intelectualidade consciente esteve engajada na garantia do lugar de fala,  cujo conceito foi aclimatado à realidade brasileira pelo livro de mesmo nome da filósofa Djamila Ribeiro, focamos agora no lugar de escuta. Afinal de contas, não se trata de ouvir o que as individualidades e coletividades têm a dizer, contudo sim de aprender e de praticar a escuta ativa objetivando contemplar ou se aproximar empática e responsavelmente de sanar anseios e aspirações que se expressam no âmbito das conversas ampliadas”, destaca a curadora.

Mariana Lachi
Mariana Lachi
Mariana Lachi - Jornalista com formação em Comunicação Social e Pedagoga. Experiência em um pouquinho de tudo: TV, rádio, revista, assessoria de imprensa e jornal impresso. Atua há mais de 20 anos com mídia.
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