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quinta-feira, dezembro 18, 2025
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HIV/Aids: especialistas explicam a importância da testagem e do diagnóstico precoce

A campanha Dezembro Vermelho, dedicada à conscientização sobre o HIV/Aids e outras ISTs, chega neste ano em um cenário de estabilidade nos novos diagnósticos, mas alerta sobre a necessidade de avançar na prevenção.

De acordo com o Boletim Epidemiológico HIV e Aids 2024, do Ministério da Saúde, o Brasil já contabilizou 1.165.599 casos de Aids desde 1980, com média anual de 36 mil novos registros nos últimos cinco anos.

Para Paulo Antônio de Carvalho, infectologista do Hospital Estadual de Franco da Rocha, gerenciado pelo CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”, em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP), a procura pelos serviços de testagem tem aumentado, especialmente entre pessoas que passaram por situações recentes de risco, o que representa um comportamento positivo. Ainda assim, ele avalia que esse movimento precisa ganhar força para acelerar a detecção precoce “O Brasil teve uma melhora significativa no acesso ao tratamento, mas a estabilidade nos novos casos mostra que a prevenção primária precisa ser intensificada”, afirma.

O especialista ainda explica que parte das dúvidas do público está relacionada à chamada janela imunológica, período entre a infecção e a capacidade dos testes detectarem o vírus. Ele esclarece que os exames de quarta geração, hoje os mais usados, permitem diagnóstico entre 15 e 30 dias após a exposição.

“Os autotestes têm uma janela maior, em torno de 90 dias, e isso precisa ser compreendido para que ninguém descarte uma infecção antes do prazo adequado”. O médico destaca que os testes rápidos oferecem precisão equivalente à dos exames laboratoriais, e que erros de interpretação acontecem quando resultados não reagentes são obtidos dentro desse intervalo.

A busca por atendimento logo após uma exposição é importante para avaliar o uso da PEP (profilaxia pós-exposição). “A PEP, que é o uso de medicamentos antirretrovirais logo após a exposição ao vírus, funciona melhor quando iniciada imediatamente, e deve ser seguida por 28 dias. Iniciar depois de 72 horas reduz significativamente a eficácia”, explica.

Já a PrEP (uso de medicamentos antirretrovirais pré-exposição), utilizada de forma contínua ou sob demanda, é descrita por ele como ferramenta fundamental para populações de maior vulnerabilidade, desde que usada da forma correta. “Um dos erros mais comuns é achar que a PrEP substitui a camisinha, mas essa ideia é equivocada. Ela é eficaz contra o HIV, mas não previne outras ISTs, que seguem exigindo proteção adicional.”.

O infectologista comenta que, com os avanços no tratamento, a queda da carga viral costuma ser rápida entre pacientes com boa adesão, e a maioria atinge carga viral indetectável entre 90 e 180 dias. “A adesão diária é o ponto-chave. Os medicamentos atuais são potentes e seguros, mas precisam ser tomados corretamente.”

Ele lembra que, mantida a indetectabilidade por pelo menos seis meses, a pessoa não transmite o HIV por via sexual, conceito respaldado por estudos internacionais. “É um dado que muda vidas e relacionamentos, porque reduz o estigma e evidência que é possível viver com qualidade.”

Mesmo após atingir carga viral indetectável, o acompanhamento ambulatorial deve continuar. O seguimento inclui exames periódicos, avaliação de possíveis comorbidades e rastreamento de outras infecções. “O tratamento do HIV não termina quando a carga viral zera. O cuidado é contínuo”, afirma.

Para ele, a campanha do Dezembro Vermelho tem papel importante ao ampliar informações sobre testagem, prevenção e tratamento. “Com informação clara, acesso aos serviços e adesão, conseguimos evitar casos novos e melhorar a vida de quem já vive com HIV.”

Porta de entrada para prevenção e acolhimento

A Atenção Primária segue sendo o primeiro contato para pessoas que buscam orientação após uma exposição ao HIV ou apresentam sintomas compatíveis com ISTs.

Em unidades básicas de saúde e prontos atendimentos, os primeiros sinais aparecem em queixas variadas. A clínica geral Juliana Almeida, que atua na UPA Campos dos Alemães, gerida pelo CEJAM em parceria com a prefeitura de São José dos Campos, explica que a equipe identifica sinais de HIV a partir de relatos de feridas, corrimentos, verrugas, alterações urinárias e outros sintomas associados.

“Também chamam atenção a febre persistente, linfonodos aumentados e quadros que lembram a síndrome retroviral aguda. Quando isso vem depois de uma exposição recente, o alerta aumenta”, diz.

Segundo ela, o acolhimento inicial é decisivo para que o paciente fale sobre suas práticas. “A Atenção Primária trabalha com acolhimento e sem julgamentos, o que facilita para que o paciente relate espontaneamente seus riscos”. Esse ambiente é o que permite identificar casos que, de outra forma, poderiam não chegar aos serviços especializados.

O fluxo clínico segue protocolos nacionais, com oferta de teste rápido já na primeira visita, mesmo quando o usuário ainda está dentro da janela imunológica. A especialista aponta que a conduta inclui o monitoramento ao longo das semanas seguintes.

As ações educativas também fazem parte do cotidiano da atenção primária, com distribuição de preservativos, conversas em salas de espera e atividades em escolas. Dra. Juliana destaca a importância de discutir o tema. “A comunicação é feita de forma acessível e livre de estigma, sempre reforçando direitos e autonomia do usuário.”

Quando o resultado é positivo, o acolhimento imediato é decisivo para evitar rupturas emocionais. “Fazemos escuta ativa e explicamos de forma clara o diagnóstico e o tratamento. É um momento muito sensível”, relata. Embora o paciente seja encaminhado ao centro de referência, a Atenção Primária continua presente nos retornos e no acompanhamento de rotina. “Falamos sobre adesão, carga viral indetectável e prevenção combinada, sempre enfatizando que indetectável é igual a intransmissível.”

Para alcançar populações vulneráveis, as unidades utilizam busca ativa, parcerias comunitárias e ações territorializadas. “As estratégias mais eficazes são as que chegam aonde a pessoa está, com orientação correta e sem estigma.”, conclui.

Mariana Lachi
Mariana Lachi
Mariana Lachi - Jornalista com formação em Comunicação Social e Pedagoga. Experiência em um pouquinho de tudo: TV, rádio, revista, assessoria de imprensa e jornal impresso. Atua há mais de 20 anos com mídia.
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